
A PÁTRIA (SÓ ) DE CHUTEIRAS
"Para a imensa maioria, o futebol é o único motivo para o exercício de seu sentimento, digamos, patriótico. É compreensível, num país onde existe pouco do que se orgulhar. Assim, a cada quatro anos o brasileiro se veste de verde-amarelo e .incorpora aquele sentimento que deveria ser permanente. Até aí tudo bem. Já que não temos do que nos orgulhar em outros campos mais importantes como os da tecnologia, das ciências, da educação, dos indicadores sociais, da política, que nos orgulhemos ao menos do nosso futebol.
O problema começa quando este sentimento se exacerba e extrapola os limites do razoável, e/ou passa a ser manipulado por outros interesses que não o esportivo.Por força de interesses comerciais gigantescos e pela atuação de uma mídia que supervaloriza o espetáculo, tratando-o como o acontecimento mais importante do planeta, o país perde o senso do razoável, e durante cerca de um mês é levado a uma espécie de catarse coletiva, onde nada mais parece importar a não ser a conquista do caneco.A se acreditar no que a mídia insistiu em fazer crer, adversários como Austrália e Japão, em tudo e por tudo superiores ao Brasil, não passariam de países de quinta categoria pelo simples fato de seus jogadores – coitados! - não terem a mesma habilidade de nossos craques com a bola nos pés.Eu trocaria toda a nossa magnificência futebolística pela metade do desenvolvimento técnico, científico, e social destes países.
No sábado, o que a seleção francesa fez foi despertar este país da ilusão e traze-lo de volta ao mundo real. Por mais feio que ele seja, é o que temos.E tem que ser encarado como ele é, mesmo que tenhamos que aguentar mais quatro anos de Lula na presidência. O fato é que o sonho acabou nos pés de um craque de verdade – Zidane. Duraria mais algum tempo, se o Brasil tivesse prosseguido no torneio e viesse a conquistar a Copa. Mas em algum momento retornaríamos à realidade.
Melhor então a derrota?Se reduzíssemos o espetáculo à sua verdadeira dimensão esportiva, certamente que não. Isto se os nossos craques não se comportassem de maneira tão apática em campo quanto o foram no jogo de sábado.Mas, se, pelo contrário, depositamos na seleção toda a carga de sentimentos patrióticos reprimidos pela impossibilidade de extravasa-los em outros setores da nossa vida social, talvez a derrota de sábado não tenha sido um mal. Quem sabe contribua de alguma forma para despertar um povo inerte e fazê-lo exercer sobre Lula ou sobre qualquer homem público a mesma marcação cerrada com que brindaram o treinador Parreira nesses últimos meses.Seria ótimo se assim fosse.
Em tempo, mergulhados nesta onda ilusionista que insistiu em vender a imagem de um país nota dez em matéria de futebol ,mal paramos para pensar que não é bem assim.Idêntico aos demais setores, o futebol brasileiro não é aquilo que muitos querem fazer crer.O que somos, na verdade, é grande exportador de craques, que fazem a alegria dos torcedores de clubes espanhóis, italianos, alemães e franceses. Mas o futebol brasileiro – nossos clubes, nossos campeonatos – é tão pobre, medíocre e ineficiente quanto a nossa educação, a nossa saúde, a nossa tecnologia, e por aí vai..."
Extraído de :
Prá frente Brasil
Os Incríveis
Composição: Miguel Gustavo
"Noventa milhões em ação
Pra frente Brasil, no meu coração
Todos juntos, vamos pra frente Brasil
Salve a seleção!!!
De repente é aquela corrente pra frente, parece que todo o Brasil deu a mão!
Todos ligados na mesma emoção, tudo é um só coração!
Todos juntos vamos pra frente Brasil!
Salve a seleção!
Todos juntos vamos pra frente Brasil!
Salve a seleção!
Gol!
Somos milhões em ação
Pra frente Brasil, no meu coração
Todos juntos, vamos pra frente Brasil
Salve a seleção!!!
De repente é aquela corrente pra frente, parece que todo o Brasil deu a mão!
Todos ligados na mesma emoção, tudo é um só coração!
Todos juntos vamos pra frente Brasil!
Salve a seleção!
Todos juntos vamos pra frente Brasil!
Salve a seleção!
Salve a seleção!
Salve a seleção!
Salve a seleção!"
Texto datado de junho de 2006, parece mais atual do que nunca; em meio a um anúncio cujo objetivo foi oficializar as sedes da Copa de 2014, que, por incrível que pareça, será no Brasil.
Se a paixão ao futebol fosse semelhante a consciência política...
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